segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

#Glenn Miller

Uma pausa no samba enredo.


Quando me encontro meio perdido no geral, e em algumas coisas específicas, desconto na música todo meu potencial de desespero. E, como se deve fazer em alguns esportes de grupo, volto e busco alguma saída em ritmos, tons ou estilos que possam me dizer alguma coisa sobre os próximos passos.


Glenn Miller foi um músico e jazzista norte americano com uma história singular. Ademais de seu início típico de todas as boas histórias de músicos - infância difícil, pobre, guardar economias pra comprar um instrumento, etc - Miller tem na sua biografia pontos ideais pra um drama de época.


Desde princípios da década de 20, Glenn Miller se comprometeu com a música que tocava, deixando inclusive os estudos em segundo planos - que veio a largar após ser reprovado em quase todas as matérias em um semestre. Sua carreira inicial vai desde apresentações em alguns grupos, até a formação de seu primeiro grupo.


O estilo reinante era o swing, mas já estava sobrecarregado com nomes de peso, como Benny Goodman e Count Basie. Calhou de ser o estilo em que Miller mas desenvolveria sua música. A crítica não lhe fazia homenagem, seus shows eram decepcionantes, e assim foi, quase totalmente em segundo plano. Em 1938, em Nova York, compõe uma banda com Wilbur Schwartz e um novo estilo de se tocar o swing que lhe rende alguma atenção no público, mesmo ainda sendo bastante criticado por tal mudança ter tonalidades "populistas".


Em algumas conversas com Goodman se nota uma tendência de Miller por essa fama, o que talvez deixe as críticas mais sustentáveis. Mas nunca fui contra a vontade de se tornar popular, desde que seja algo que envolva uma técnica, uma vontade de, além da fama, também se tornar diferente por criatividade própria. E Miller, bem ou mal, conseguiu isso com a ajuda de sua nova contratação, o saxofonista Schwartz. A diferença é notável quando se acompanha as composições antes e depois desta época.


Com o sucesso, e com shows agendados semanalmente, Glenn Miller vive sua fase de maior sucesso de público até 1942, quando toma a decisão de se juntar ao exército americano, na segunda guerra mundial. Deixa sua carreira como jazzista de lado, e tenta inovar as marchas militares com versões de jazz e blues, o que é visto com certa desconfiança por militares da velha guarda. Após 2 anos de serviço, ele parte para uma viagem até a França, onde faria uma apresentação para oficiais em Paris. O avião perde contato no meio da travessia do Canal da Mancha. Até hoje não foram encontrados nem corpos, nem avião, nem mesmo uma explicação para o desaparecimento.


A história de Glenn Miller começa mal, com a frustração por não conseguir a popularidade esperada na carreira que dedicou tanto tempo, possui um alívio durante 4 anos de popularidade, mesmo que ainda não fazendo sucesso com críticos, e termina com uma tragédia misteriosa. Se não bastasse isso pra se fazer uma vida que merece ser conhecida, suas músicas são também um marco de época, colocando-o numa posição igual aos dos músicos que invejava. Suas canções são pontos de referência quando se pensa na época do swing, quando as pessoas dançavam juntas, parecendo não fazer ideia do que faziam, um ritmo que dava uma cor em épocas de crise.
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Comecei falando de mim, e me perdi na história de outro. Movimento nada novo, ainda mais quando a cabeça não sabe bem onde mirar pra reclamar ou culpar de não se sentir bem. Agora, sem tempo pra remediar, fica a música que me inspirou e tirou do tempo:






domingo, 6 de dezembro de 2009

"O início do período Neolítico foi quando a agricultura começou a se espalhar pela Europa central e a equipe acredita que o canibalismo no continente era uma ocorrência rara, provavelmente apenas durante períodos de fome extrema."

Trecho de reportagem da BBC Brasil sobre o achado de ossadas na Europa, datadas do período Neolítico, e que poderiam ser provenientes de canibalismo.


Resposta: Desde que Franz Boas iniciou uma visão e abordagem mais relativista no conteúdo antropológico, e não estamos falando de algo que aconteceu ontem, mas sim há várias décadas atrás, é de impressionar como ainda é algo persistente no pensamento ocidental uma via unilateral de análise das coisas em suas mais diferentes dimensões(espacial e temporal).
Leví-Strauss preferia tratar das sociedades atuais, pois apenas delas é possível se falar, já que dificilmente teriamos uma via de explicação histórica com poucos, ou nenhum em grande parte dos casos, registros das tais sociedades.
As sociedades do período neolítico, como sou levado a imaginar, dificilmente devem ter deixado algum escrito, arranjo simbólico, livro, uma simples carta ou publicação onde disseram suas preferências alimentares, rituais religiosos ou histórico de guerra. Claro que há outros meios para se chegar ao conhecimento de tais práticas, não quero aqui desligitimar o conhecimento dos arqueólogos. Mas acredito que não é por um estranhamento, tipicamente ocidental(vendo ocidental agora não como um aspecto geográfico, apenas, mas como formação histórica-valorativa) que se começa a analisar o achado de ossadas de crianças, fetos e outros mais. Que eles tenham marcas de dentes, espetos, ou seja lá o que mais tiver, que demonstre, ou levem a crer, que passaram por rituais de canibalismo é uma coisa. Outra totalmente diferente é olhar pro problema e se perguntar: "Oh, jesus! O que eles estavam fazendo comendo criancinhas e pessoas? Já deveriam ter abandonado essa prática rudimentar no período paleolítico!"
Com tal argumento você desconsidera qualquer significação simbólica do ato de se alimentar, e até mesmo da questão corporal, indivíduo, etc. O canibalismo é algo tão ritual como as missas católicas, os preparativos de um churrasco gaúcho, enfim, uma série de coisas que fazem com que aquela prática seja diferenciada de um simples "matar a fome". Tais rituais servem para individualizar a ação em uma teia simbólica que a faça ganhar significado. Falar que é uma prática simplesmente alimentar é simplificar a ação, fugindo assim do seu significado legítimo.